quarta-feira, março 03, 2004

Tecnologias Paralelas por Aldo Barreto

O futuro da ciência da informação e da comunicação depende de como será a articulação para inserção das tecnologias novas no seu agir cotidiano. As tecnologias da informação e da comunicação com elevado teor de inovação e convencimento estão definitivamente inseridas no contexto das duas áreas, hoje tão dependentes destas tecnologias que poderíamos afirmar que o futuro de suas práticas se anuncia no presente. As mudanças na tecnologia, ocorridas durante os últimos anos, reorganizam estes campos e os métodos associados ao próprio pensar do estudo da informação e da comunicação.

O modelo tecnológico inovador é tão fechado que induz a um distanciamento alienante de como ele opera ou se opera no melhor sentido. Se o discurso da ciência traz uma promessa de verdade, o da tecnologia traz consigo uma promessa de felicidade, de melhoria das condições de vida para o homem, de conforto material.

No caso das tecnologias de informação ou de comunicação, se o objetivo declarado é promover o acesso universal à informação e diminuir a dívida da inclusão social, este objetivo passa a ser uma decisão de status tecnológico da sociedade. Não é passível de dúvida ou contraposição. A autoridade tecnológica julga e condena quem quer se introduzir no conhecimento do processo em si. Se as suas conseqüências são ditas benéficas para a sociedade, questioná-las é quase pouco decente.

Esta é uma constatação da prática diária, não uma concordância com uma circunstância em que, para determinadas áreas, a tecnologia se transforme em ideologia. O que procuramos indicar é a existência de uma forte dependência tecnológica e que esta tecnologia atinge as duas áreas de modo diferente, embora estejam entrelaçadas.

As ditas tecnologias da informação e comunicação, enunciadas sempre como sendo unificadas em seus efeitos, na verdade são duas manifestações tecnológicas que operam em conjunto.

As novas tecnologias da informação estão relacionadas, por exemplo, à criação da informação. A utilização do computador aproxima as linguagens do pensar e do editar a informação, quando a sua concepção e inscrição ocorrem na tela do computador, onde estão representadas por evanescentes pixels de fósforo em uma tela. Ali é tamanha a sua impermanência que pensamento e linguagem se aproximam.

As estruturas da informação admitem novos contornos, com o hipertexto e as linguagens multimídia, com a possibilidade digital de se ter, no mesmo documento, texto, som e imagem. O fluxo de informação, antes uni-direcionado e sucessivo nos seus eventos, permitia ao receptor somente uma interação mediada e uma avaliação de qualidade ao final do processo. O receptor depositava sua necessidade de informação, induzido pelo mediador que traduzia o seu desejar em uma linguagem acessória, com toda a perda de conteúdo que isso pudesse trazer aos anseios do receptor.

O controle da linguagem natural com seus aparatos esotéricos e fetiches operacionalizados para um ocultar da linguagem normal do homem trazia ruídos na comunicação dos desejos de informação do usuário. O receptor, antes um espectador do sistema de armazenamento e recuperação, agora com as tecnologias da informação participa do processo, quando, do desenvolver do próprio processo, sem mediação, passa a ser o único árbitro de suas necessidades informacionais e da relevância a elas associadas, tudo em tempo real.

Por outro lado as tecnologias da comunicação limitaram muito os meios intransitivos, aqueles que não respondem. A ausência de intercâmbio com o receptor foi assombrada pela interatividade e pela conectividade em velocidades que se aproximam do infinito.

O meio não é mais a mensagem. A interatividade permite uma inter-atuação multitemporal com os fatos, idéias e ocorrências de um cotidiano global. O receptor tem acesso às "fontes" e, mutuamente, estabelecem lá um dialogo de seu interesse, também, sem intermediários: arranja a sua mensagem de uma maneira subjetivamente individualizada por suas preferências, independente dos canais formais de uma comunicação solitária.

Os intermediários das mensagens, com a interatividade em tempo real, foram liberados, para encontrar um melhor fazer, como todos os demais intermediários da informação: o vendedor da loja, o atendente do banco, o professor, quando, em sala ditando regras preso a um quadro negro e apostilhas pré-fabricadas, os intermediários dos diferentes acervos documentais e os que estão por vir.

A conectividade cibernética, na comunicação, traz a vizinhança universal imediata. A comunicação com a mesa ao lado pode ser tão eficiente quanto com meu colega de informação na Finlândia. Toda a relação de tempo e espaço da comunicação se modifica e se liberta da forma. Estar em um espaço comunicacional é uma decisão minha, que pode ser modificada na velocidade de um apertar botões. Passado e futuro desabam no presente fazendo deste a única dimensão do tempo no espaço de comunicação.

Tecnologias aproximadas que se cruzam em benefício do receptor.
Várias profissões e áreas do conhecimento necessitam se reorganizar para não desaparecer. Quais serão os conhecimentos de um profissional da informação, seja ele um servidor de acervos documentais ou um devoto dependente dos meios de massivos de comunicação. Tecnologias associadas com alta e rápida capacidade de mutação.
Profissionais que marcham para o (in)finito, caso permaneçam parados.



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In http://www.dgz.org.br/jun03/Ind_com.htm


Aldo Barreto
aldoibct@alternex.com.br